Varejistas se reúnem com Lula e dizem esperar corte de juros e retomada no 2º semestre

Varejistas se reúnem com Lula e dizem esperar corte de juros e retomada no 2º semestre Varejistas se reúnem com Lula e dizem esperar corte de juros e retomada no 2º semestre

Após o encontro, o presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), Jorge Gonçalves Filho, criticou a taxa básica de juros (Selic, hoje em 13,7% ao ano) e disse esperar uma “regressão” no curto prazo. Segundo ele, propostas do governo que seriam positivas para o setor dependem dessa redução.

O vice-presidente Geraldo Alckmin também falou com a imprensa após o encontro e mirou a taxa básica de juros na sua declaração. “Isso prejudica muito a atividade econômica. Ou seja, prejudica o emprego”, disse, reforçando que o tema é preocupante para os varejistas.

(Folha de S. Paulo, 14/6/2023)

Queda da Selic é necessária para viabilizar projetos do governo, segundo setor.

Um grupo de cerca de 30 representantes de grandes empresas do varejo participou de uma reunião, nesta quarta-feira (14), no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ministros do governo.

Após o encontro, o presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), Jorge Gonçalves Filho, criticou a taxa básica de juros (Selic, hoje em 13,7% ao ano) e disse esperar uma “regressão” no curto prazo. Segundo ele, propostas do governo que seriam positivas para o setor dependem dessa redução.

O empresário afirmou ainda que deve haver uma melhora no setor no segundo semestre, sem entrar em maiores detalhes.

Governo e empresários ampliam crítica ao BC às vésperas do Copom

A alta taxa de juros, um dos principais alvos de crítica de Lula e de integrantes do seu governo, foi debatida na reunião, segundo Filho.

“Notamos que tem uma dificuldade grande em alguns programas [do governo] por conta dos juros. A gente tem uma expectativa que a questão dos juros tenha regressão a curto prazo. Sabemos que o BC [Banco Central] tem o rito para que isso ocorra, mas notamos que vários programas que serão bons para o varejo, para o mercado, dependem disso também”, disse a jornalistas no Planalto.

“Há expectativa que, com as medidas que entendemos que estão prestes a vir, teremos retomada no segundo semestre. Medidas voltadas ao crédito, a investimento em outros setores que refletem no varejo, infraestrutura, por exemplo, o presidente falou bastante”, completou.

Uma das principais propostas de Lula para sua terceira gestão é o novo PAC (Programa de Aceleração e Crescimento), que ainda não saiu do papel. O presidente disse nesta semana que, a partir de 2 de julho, o governo deve lançar um programa de obras.

O vice-presidente Geraldo Alckmin também falou com a imprensa após o encontro e mirou a taxa básica de juros na sua declaração. “Isso prejudica muito a atividade econômica. Ou seja, prejudica o emprego”, disse, reforçando que o tema é preocupante para os varejistas.

De acordo com ele, outros dois temas entraram na pauta da reunião: lealdade concorrencial e reforma tributária.

No caso do primeiro, foi abordado no encontro o plano de conformidade que está sendo elaborado pela Fazenda e pela Receita, com participação de representantes do setor, para evitar casos de empresas de varejo que burlam impostos.

A discussão ganhou notoriedade há alguns meses com grandes empresas como a Shein e a Shopee. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) também participaram do encontro.

Compras na Shein, Shopee e AliExpress? Estados vão cobrar alíquota unificada de 17% de importados on-line

O setor varejista criticou recentemente o governo Lula pelo recuo na taxação de remessas internacionais entre pessoas físicas. Em abril, após grande repercussão e cobranças, a equipe do ministro Fernando Haddad desistiu de acabar com a isenção de até US$ 50 para remessas entre pessoas físicas.

A medida, que acabou engavetada, tinha o objetivo de taxar importações chinesas, que chegavam ao país por meio de remessas entre pessoas físicas, para escapar da tributação.

A respeito da reforma tributária, Jorge Gonçalves Filho disse que o setor apoia a proposta.

Participaram do evento Frederico Trajano e Luiza Trajano, ambos do Magazine Luiza; Sérgio Herz, CEO da Livraria Cultura; Ronaldo Pereira Júnior, CEO da Ri Happy; a vice-presidente de relações governamentais do McDonald’s, Marlene Fernandez; Antônio Carlos Pipponzi; presidente do conselho de administração da Raia Drogasil; Artur Grynbaum, do Grupo Boticário; entre outros.

A reunião com o setor se dá após comissão do Senado ter aprovado a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores, uma medida que vem enfrentando resistência por parte da equipe do ministro Fernando Haddad.

De acordo com Gonçalves Filho e Alckmin, o tema não foi discutido na reunião do Planalto nesta quarta.

Foto: O vice-presidente Geraldo Alckmin, ao lado de Jorge Gonçalves (esq.), presidente do IDV. – Pedro Ladeira/Folhapress

***

Leia também:

Após reunião com varejistas, Alckmin volta a criticar patamar dos juros: ‘Não há nada que justifique’

(Valor Econômico, 14/6/2023)

Vice-presidente fez declarações após reunião de Lula com representantes do varejo, a uma semana do Copom

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, voltou a dizer que “não há nenhuma razão” que explique a decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic num patamar alto.

Selic precisa cair para país retomar crescimento

Alckmin falou sobre o tema após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reunir com empresários do varejo no Palácio do Planalto. A questão dos juros foi um dos temas principais abordados no encontro. “O presidente Lula começou a reunião dizendo que queria ouvir os empresários e pediu para serem francos. O varejo é o maior empregador do Brasil e tem grande importância social e econômica. [Os empresários] colocaram de maneira clara a questão dos juros, que prejudica muito a atividade econômica, prejudica o emprego”, disse.

Para o vice-presidente, “os juros não estão parados”, já que o juro real (descontada a inflação) está subindo. “Com a Selic parada e inflação caindo, o juro real está subindo sem nenhuma razão para isso. A questão dos juros é extremamente preocupante. Não há nada que justifique os juros reais estarem em crescimento com a Selic parada”, afirmou.

Entre os participantes da reunião, estavam os presidentes das redes Magazine Luiza, McDonald’s, Renner, Boticário, Carrefour e Pão de Açúcar, entre outras companhias. O Valor apurou que os executivos teriam reclamado que o patamar da taxa Selic estaria dificultando os investimentos dessas empresas e, por outro lado, aumentando a inadimplência.

As críticas foram endossadas pelo presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho, da Saint-Gobain Distribuição Brasil e participou da reunião. “Falamos da empregabilidade do varejo, que pode ser multiplicada. Foi uma reunião muito produtiva, saímos com várias lições de casa. Notamos que há uma dificuldade grande por conta dos juros. Realmente temos uma expectativa de redução dos juros a curto prazo. Vários programas do governo que são bons para o varejo dependem disso.”