Regras devem ser iguais para todo o mercado, diz Pimentel
A disparidade entre a tributação de produtos importados via e-commerce e aquela incidente sobre mercadorias nacionais pode acarretar diversos prejuízos socioeconômicos para o país, incluindo desemprego e menor arrecadação aos cofres públicos, segundo o diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Valente Pimentel.
Em vigor desde agosto de 2023, a portaria nº 612 do Ministério da Fazenda, atrelada ao programa Remessa Conforme, permite que sites estrangeiros exportem itens de até US$ 50 para o Brasil sem pagar impostos federais. Ficam sujeitos apenas à alíquota estadual de 17%, referente ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Em paralelo, explica Pimentel, empresas brasileiras têm de disputar o mercado nacional arcando com uma carga tributária mais alta. De acordo com dados da ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), os tributos pagos pelo setor nacional, considerando toda a cadeia produtiva, da indústria ao varejo, atingem cerca de 80% –ou seja, mais de 4 vezes o que é cobrado dos concorrentes importados.
“O comércio eletrônico é fantástico, beneficia todo mundo e traz comodidade. Porém, as plataformas internacionais precisam se adequar às legislações nacionais e ter uma concorrência isonômica com os nativos. Não é correto exigir dos locais uma série de regras, e o outro, do lado de fora, não cuidar de nada”, disse Pimentel, durante entrevista realizada na 3ª feira (21.nov.23), no estúdio do Poder360, em Brasília (DF).
O executivo reforça ainda que a atuação, tanto das plataformas internacionais quanto do varejo nacional, deve ser equânime. “Quem deseja atuar no mercado brasileiro, deve seguir as regras desse mercado.”
Assista à íntegra da entrevista (24min46s):…
Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/conteudo-patrocinado/regras-devem-ser-iguais-para-todo-o-mercado-diz-pimentel/)
Segundo ele, o valor de US$ 50 –aproximadamente R$ 245– usado como limite para a medida é superior ao tíquete médio do varejo nacional, sendo preciso tornar a situação mais isonômica. Na avaliação do diretor-superintendente, ou o produto estrangeiro voltaria a ser taxado ou o brasileiro deixaria de ser, de forma que a competição entre ambos ficasse mais “justa”.
Classificado como uma medida “positiva” do governo federal por Pimentel, o Remessa Conforme foi criado para evitar que sites estrangeiros enviassem encomendas para o Brasil como se fossem presentes entre duas pessoas físicas e, assim, não pagassem os devidos impostos.
Em 45 dias de implementação do programa, as empresas habilitadas representavam cerca de 67% do total de pacotes enviados ao Brasil no 1º semestre deste ano, que foi de 123 milhões de volumes. Sem a cobrança de impostos, a Receita Federal estima uma perda potencial de arrecadação de R$ 35 bilhões, de 2023 a 2027.
“À medida que uma parcela relevante do comércio internacional eletrônico é isenta, o ajuste vai se dar em cima dos negócios locais e é óbvio que vai aumentar o custo dos locais e favorecer os internacionais. É injusto para quem acredita e investe no Brasil e, ao mesmo tempo, não colabora para o equilíbrio fiscal”, disse Pimentel.
Além da menor arrecadação pelos cofres públicos, o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) prevê que, só neste ano, 554 mil empregos poderão ser perdidos, entre diretos, indiretos e efeito-renda, como consequência da portaria publicada pelo Ministério da Fazenda, que impacta diretamente o setor.
Efeitos semelhantes também poderão ser sentidos no setor têxtil, que emprega 1,7 milhão de pessoas no país, pagando cerca de R$ 50 bilhões em salários. Ao todo, são 285 mil negócios, dos quais mais de 90% são micro e pequenas empresas, que contribuíram para o faturamento de R$ 229 bilhões em 2021, segundo a ABVTex.
Para Fernando Pimentel, defender a isonomia é fortalecer a indústria brasileira. “A falta de equilíbrio está prejudicando quem gera empregos no Brasil e, posteriormente, vai prejudicar também o próprio consumidor, porque se não houver a produção nacional, não vai ter emprego relacionado ao setor.”
Pauta é mundial
Embora evidenciado pelo programa Remessa Conforme nacionalmente, o debate sobre os impactos das grandes plataformas de e-commerce internacionais é uma agenda mundial, na visão de Fernando Pimentel. Principalmente, no que diz respeito à sustentabilidade da cadeia produtiva e à segurança dos produtos aos consumidores.
Durante a entrevista, Pimentel mencionou um relatório do Greenpeace Alemanha, no qual 47 peças de um e-commerce chinês foram testadas, das quais 7 tinham produtos químicos considerados perigosos, com concentrações maiores que as permitidas na União Europeia, e 15 tinham substâncias em níveis “preocupantes”.
O executivo também disse que alguns países não trabalham com o mesmo compliance que o Brasil –o que pode acarretar a riscos de maior ou menor grau, dependendo do produto. Em território nacional, os fabricantes precisam seguir diversos regramentos para não serem multados durante as fiscalizações, impactando o custo da produção.
Além de eventuais riscos durante o uso, Pimentel levantou questionamentos relativos à economia circular, que visa ao reaproveitamento e ao manejo adequado de resíduos. “Como é que esses sites estrangeiros vão cuidar do pós-consumo aqui dentro? Como é que vão tratar dos produtos que, eventualmente, são descartados?”
Para conscientizar os consumidores sobre o papel deles nessa transição para uma moda socialmente responsável, a ABVTex lançou o Movimento MCV (ModaComVerso) em 2021, junto de varejistas, fornecedores e organizações civis. O objetivo é fomentar e garantir boas práticas trabalhistas e ambientais. Em 1 ano, mais de 56 milhões de pessoas foram impactadas.
A expectativa é que a isonomia tributária e um maior controle qualitativo sejam alcançados “em breve”, segundo Pimentel. “Estamos confiantes de que haverá uma solução para esse desequilíbrio, porque é o racional, o lógico. Principalmente, em uma agenda que busca, de forma legítima, a retomada da indústria, que pode contribuir para o crescimento do país”, disse.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies essenciais
Favor deixar cookies essenciais sempre habilitados para que possamos lembrar suas escolhas no website.
Se você desabilitar este cookie, não poderemos salvar suas escolhas.Isto significa que cada vez que você visita o website, terá de habilitar/desabilitar os cookies novamente.
Analytics
Este site usa o Google Analytics para coletar informações anônimas, como o número de visitantes do site e as páginas mais populares.