SÃO PAULO – A política de isolamento é a estratégia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por infectologistas para conter a disseminação do novo coronavírus. Mas empresários da indústria e do varejo, preocupados com o impacto da paralisação total da atividade econômica do país, já começam a discutir qual é a hora certa de reativar os negócios.
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Nessa difícil equação entre saúde da população e saúde da economia, o prazo de duração da quarentena se tornou questão-chave para o empresariado.
João Carlos Brega, presidente da multinacional Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, diz que não adianta acabar com a quarentena de imediato e retomar as atividades sem recuperar a confiança do consumidor.
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– A população está preocupada que, se ficar doente, não vai ter hospital. Não adianta forçar a oferta se não tiver demanda. Temos que acelerar a construção de leitos em hospitais de campanha, produzir mais respiradores, buscar dar tranquilidade para a população – afirmou o executivo.
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O empresário Abilio Diniz, de 83 anos, defende que o governo estabeleça um prazo para que o país consiga voltar à normalidade, para que o custo humano não seja maior que o vírus.
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– É importante que haja uma agenda do que deve ser feito: hospital de campanha, máscaras, respiradores… É muito importante que a gente dimensione a paralisação. A pessoa tem que ter a esperança de que vai voltar a trabalhar, que a vida voltará ao normal. A retomada tem que ser organizada — disse o executivo em transmissão ao vivo da XP.
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Abilio afirmou ter conversado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e disse que ele prometeu colocar em circulação de R$ 600 bilhões a R$ 700 bilhões.
– Ele vai pôr dinheiro grosso. Ele é um liberal, mas como (Milton) Friedman dizia, na crise, todo mundo é keynesiano. Ele está preocupado até com a produção. Então vai ter retomada, dinheiro, emprego. Agora, tem que ter um prazo para isso terminar.
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Aldo Macri, diretor do Sindilojas-SP, sindicato empresarial que soma 145 mil estabelecimentos fechados na capital paulistana por causa do isolamento social, defende que a reabertura, quando acontecer, precisa ser bem planejada pelo governo:
– Independentemente de toda a questão de saúde pública, abrir sem planejamento e sem certeza seria pior: aumentaríamos gastos com o funcionamento da loja, sem clientes, ampliando o risco de problemas da saúde em todos.
O presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Marcelo Silva, vê riscos em um fim do isolamento sem planejamento:
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— Não se restabelece a confiança da população por decreto ou por discurso. As pessoas, e consumidores, só voltarão às ruas quando a situação estiver normal.
Marcelo Souza e Silva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Belo Horizonte, que reúne 18 mil lojas, afirmou que não cabe aos empresários debater o prazo da quarentena:
– Precisamos de liderança e comunicação clara. É quase certo que o pior da epidemia não passou. Muita gente quer abrir seus negócios por estar desesperado, mas isso não necessariamente será bom.
O empresário Chaim Zaher, presidente do grupo educacional SEB, avalia que até o fim de abril ou mais tardar maio, será possível voltar à normalidade.
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– Quanto antes voltar ao trabalho melhor. Mas vamos respeitar o que a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam. Não podemos deixar nossos alunos em perigo.
Para José Galló, presidente do Conselho de Administração da Renner, a primeira crise a resolver é a da saúde.
— Se não formos sérios, vamos pagar a conta lá na frente. Só depois que for resolvida a parte da saúde, começaremos a resolver a economia.
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O Brasil 200, grupo de empresários conservadores, defende a reabertura do comércio em meados de abril. Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, é a favor da liberação progressiva, a partir de 6 de abril:
– Toda morte é lamentável, uma vida não tem preço, mas o avanço do desemprego, caos social com a economia desligada, gerando até uma onda de violência, pode gerar muito mais mortes.