Shein domina audiência digital de moda no Brasil
Os e-commerces estrangeiros conseguem investir muito em mídia digital porque têm uma condição que as empresas brasileiras não têm, que é o subsídio indireto com o não pagamento do imposto importação. Se as empresas nacionais deixarem de ter essa carga tributária e se equipararem às varejistas estrangeiras, poderiam investir muito mais na mídia digital. Falta isonomia tributária, equidade concorrencial.
— Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, em entrevista ao portal CNN.
Um mapeamento recente das maiores audiências digitais de moda no Brasil mostra que o domínio da Shein nessa categoria do varejo não tem pra ninguém. A marca chinesa é dona de 16,17% do marketshare de tráfego na web, que nada mais é que a fração do mercado controlada por ela no comércio digital.
Para isso, a plataforma conta atualmente com 21,8 milhões de usuários ativos no seu aplicativo. A Lojas Renner, segunda colocada, domina 9,42% do tráfego de site e tem somente 1/5 dos usuários ativos da Shein no aplicativo, cerca de 4,5 milhões.
Os dados são de um levantamento feito pela Snaq, uma startup do ecossistema da StartSe, junto com a SmiliarWeb, que analisa e monitora o tráfego de empresas na internet.
A empresa chinesa, que reinventou a indústria com peças de roupas baratas, tem um processo de fabricação sem igual no mundo, onde mais de 2 mil novos produtos são lançados todos os dias com a ajuda da inteligência artificial.
Segundo estimativa do BTG Pactual, o faturamento anual de 2023 da Shein no Brasil foi de R$ 10 bilhões, o que representa um aumento de 42,8% em relação a 2022. Mas, nesse ponto, a chinesa ainda não alcançou a Renner, que faturou R$ 11,7 bilhões no mesmo período.
A expectativa do mercado é de que a estreia da Shein na Bolsa dos EUA ocorra em breve, com uma previsão de valuation de US$ 90 bilhões de dólares.
Para Junior Borneli, CEO da StartSe, o segredo desse sucesso está na forma como a Shein consegue atrair os consumidores usando técnicas diferentes daquelas que as empresas tradicionais no Brasil fazem. Ele explica que isso começa com o processo de fabricação, que faz com que os usuários participem ativamente da escolha das peças.
E a tecnologia é utilizada de uma ponta a outra nessa história, já que a empresa usa algoritmos de inteligência artificial para definir quais peças de fato serão produzidas ou não.
De acordo com Junior, aquelas peças que foram para o site não necessariamente existem, mas a tecnologia de IA é capaz de determinar quais são as mais propensas a serem vendidas se forem produzidas em larga escala. “Dessa forma, eles conseguem fazer um modelo de fabricação muito mais ágil e muito mais antenado com aquilo que o consumidor quer naquele momento”, explica.
Além de tudo isso, a Shein ainda usa a estratégia de se conectar com grandes influenciadores nacionais, usa modelos de live commerce, de social commerce e cria várias outras ferramentas que tornam o uso e o acesso à plataforma muito mais fácil do que das marcas varejistas brasileiras concorrentes.
Todo esse conceito, somado ao fato da Shein ter nascido como uma empresa nativa digital, faz com que ela tenha atingido esse alcance gigantesco, conclui o CEO da StartSe.
Para o varejo local, esse sucesso da empresa estrangeira é explicado de outra forma.
Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) diz que a Shein realmente consegue investir muito em mídia digital, mas porque ela tem uma condição que as empresas brasileiras não têm, que é o subsídio indireto com o não pagamento do imposto importação, que foi reduzida a zero pelo Governo Federal, enquanto que as empresas nacionais têm uma carga tributária média de 80%.
Jorge acredita que se as empresas nacionais deixarem de ter essa carga tributária e se equipararem às varejistas estrangeiras, elas poderiam investir muito mais na mídia digital. “Falta de isonomia tributária, equidade concorrencial”, afirma.
O futuro do e-commerce internacional no Brasil
O governo brasileiro pode dar uma movimentada nesse ranking, já que anda de olho em formas de aumentar os impostos sobre os produtos importados. Atualmente os sites internacionais são beneficiados pelo programa Remessa Conforme que isenta de impostos de importação compras até 50 dólares, ficando estas sujeitas apenas ao imposto estadual (ICMS) de 17%.
As mudanças no Remessa Conforme ainda não têm data para acontecer. E, apesar de muito criticada pelos consumidores brasileiros, essa é uma pauta amplamente defendida pelos varejistas nacionais.
“Ou nós temos isenção também de tributos para empresa nacional, para poder concorrer de igual para igual, ou as plataformas estrangeiras passam a ter também os tributos que nós pagamos no mercado interno”, defende o presidente do IDV.
Fonte: CNN Brasil, 19/3/2024
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