Governo avalia crédito com garantia do Tesouro a grandes empresas, diz Guedes

Governo avalia crédito com garantia do Tesouro a grandes empresas, diz Guedes

Em videoconferência com empresários, ministro da Economia pediu para os brasileiros evitem o calote.

04/04/2020

BRASÍLIA – O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse neste sábado que o governo avalia oferecer crédito com garantia do Tesouro Nacional a grandes empresas. O governo anunciou no fim de março financiamento de R$ 40 bilhões a pequenas e médias empresas (dos quais R$ 34 bilhões subsidiados com recursos públicos) para viabilizar o pagamento de salários.

A Medida Provisória (MP) 943, que oficializa o crédito, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na noite de sexta-feira. Segundo o governo, apenas empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões podem fazer uso desse financiamento.

Guedes participou de videoconferência com empresários do varejo. Ele disse que a ideia do governo é expandir as iniciativas de crédito a empresas com faturamento maior, de até R$ 300 milhões. Mas não deu detalhes de como isso seria feito:

— Vamos dobrar e continuar expandindo isso, o dinheiro é na veia. Quando dobrarmos (o crédito), vamos ter que incluir empresas maiores (de faturamento), de R$ 100 milhões, R$ 200 milhões, R$ 300 milhões de faturamento, que é o que faremos agora.

— O BNDES deu dinheiro para Porto Mariel, em Cuba, com garantia do Tesouro. O Tesouro garantiu, e Cuba não pagou. Demos dinheiro para a Venezuela, também não pagou. O uso de garantias é comum, o Tesouro garantiu muita coisa, a União garantiu muita coisa, mas garantiu muita coisa errada. Esse caso agora é uma garantia imprescindível e necessária. Vamos ter que usar os Fundos Garantidores.

Capital de giro

O ministro disse ainda que “aprendeu” que não adianta apenas liberar compulsório para os bancos para que as instituições financeiras ampliem a oferta de crédito.

– Nós aprendemos que liberar compulsório não basta. Empossa mesmo – disse Guedes aos empresários.

Há cerca de dez dias, o Banco Central reduziu a alíquota dos pagamentos compulsórios. A estimativa era liberar R$ 68 bilhões em crédito na economia. mas o bancos estavam cobrando juros mais altos dos interessados em tomar financiamento, e o dinheiro acabou ficando parado nos bancos, ou “empossado”.

Por isso, Guedes disse que pretende, a partir de agora, vincular a liberação de mais recursos para os bancos, por meio da redução de depósitos compulsórios pelo Banco Central, ao repasse direto de créditos para geração de empregos e capital de giro para as empresas.

— Se estamos pedindo refeição, usando os serviços de telefonia, vamos manter os pagamentos em dia para exatamente não destruirmos, descapitalizarmos os serviços que estamos usando.

‘Ativismo regulatório’

Ele voltou a criticar os impostos sobre a folha de pagamento, defendendo que sua redução deles será fundamental para uma retomada da economia depois que a crise na área da saúde for superada.

– Criar emprego tem que ser fácil, barato e estimulante, ou nós vamos continuar nesse atoleiro – afirmou Guedes.

O ministro disse també que está em contato com o comércio para que seja evitado também um “ativismo regulatório”. Citou como exemplo medida que foi debatida pelo Senado para suspender o pagamento de aluguéis, proposta descartada posteriormente.

Na videoconferência, Guedes afirmou que o governo planeja uma saída da crise, mas frisou ao menos três vezes que o país está neste momento em “isolamento social sob a coordenação do ministro (da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta”, que tem sido criticado pelo presidente Jair Bolsonaro.

– Estamos planejando uma saída. Para superar essa primeira onda, estamos sob a coordenação do ministro Mandetta, em isolamento social. E o presidente já avisou que terá a segunda onda econômica e vamos ter que furar também.

Passaporte da imunidade

Ele também disse que um “passaporte da imunidade” para pessoas curadas após desenvolverem a Covid-19 pode ser uma possibilidade para que o Brasil possa conseguir, futuramente, tirar profissionais do isolamento em meio à crise.

Presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Marcelo Silva afirmou na conferência que algumas empresas já começaram a demitir trabalhadores na crise e cobrou agilidade do governo federal, principalmente utilizando bancos públicos para acelerar a concessão de crédito.

– Já começaram as demissões de pequenas, médias e algumas grandes empresas que não tem caixa para fazer seus pagamentos – afirmou Marcelo Silva.

Shoppings pedem crédito do BNDES

Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), também pediu celeridade para a liberação de recursos .Ele sugeriu que o BNDES abra uma linha de crédito para os shoppings.

– Precisa de crédito abundante para o pequeno e para o médio. Não daqui dois meses, mas agora – afirmou Humai.

Guedes afirmou que por meio de medidas do Banco Central, Caixa e BNDES já foram repassados R$ 450 bilhões para concessão de crédito e afirmou que se esse dinheiro ainda não chegou na ponta é porque houve “falta de efetividade” do sistema.

O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, José Cesar da Costa, afirmou que apenas 40% das empresas do setor estão funcionando.

Comércio aberto em feriado

Ele sugeriu a Guedes que após o fim da quarentena o comércio seja autorizado a trabalhar nos feriados nacionais, estaduais e municipais como forma a compensar as perdas registradas agora. O ministro tratou a ideia como uma “excelente sugestão”

Guedes disse também que o Banco Central (BC) estuda ampliar o acesso ao crédito via maquinhas , como PagSeguro e Stone.  Ele afirmou que o BC precisar sair do “cercadinho” de só negociar com bancos:

– A nossa ideia é que o Banco Central consiga atravessar essa barreira e abrir a janela para o redesconto  para as maquininhas, para todo mundo que quiser entrar nessa cadeia, para as empresas de crédito independentes. A  pessoa pode emprestar para a vizinha toda e redescontar – afirmou o ministro.

Ao  responder as críticas dos empresários sobre o empossamento do crédito, apesar da liberação de recursos pelo BC, Guedes disse que se a situação não mudar o governo pode recorrer ao financiamento direcionado, “carimbado”.

Ele admitiu que é uma frustração  para o governo o dinheiro ficar parado nos bancos e não chegar aos tomadores.  O ministro  prometeu ser reunir uma vez por semana com representantes do setor produtivo para monitorar a a situação.