Recuo sobre isenção vai exigir do governo esforço maior em combater ilegalidades, diz IDV

Recuo sobre isenção vai exigir do governo esforço maior em combater ilegalidades, diz IDV

“A não cobrança poderá fazer com que muitas plataformas continuem burlando o Fisco e promovendo uma competição desleal com as varejistas brasileiras, que pagam seus impostos e contribuem para o desenvolvimento do país”, disse Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV

Por Adriana Mattos, Valor Econômico — São Paulo

O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) disse hoje que a manutenção da isenção de impostos para as remessas internacionais de até US$ 50 (para operações cujos vendedores e consumidores sejam pessoa física) vai exigir um esforço maior do governo no combate à pirataria e à sonegação de impostos.

Após informar ontem sobre recuo do governo nesta matéria, mantendo a isenção, o Ministério da Fazenda disse que o presidente Lula decidiu pelo reforço da fiscalização, antes de pensar em taxar essa faixa de valor de remessas. A forte pressão popular em redes sociais, e desgaste de seu governo, teria feito Lula manter tudo como está, dizem fontes ouvidas ontem.

A isenção só é válida no caso de operações de até US$ 50 em operações sem fins comerciais, mas subterfúgios vêm sendo usados por lojistas e compradores para os consumidores sonegarem impostos de importação (em compras de US$ 50 a US$ 500, a taxa é de 60%).

“Acabar com a isenção e taxar toda e qualquer encomenda vinda do exterior seria uma forma de o governo arrecadar mais dinheiro e cobrar o que é seu de direito. A não cobrança poderá fazer com que muitas plataformas continuem burlando o Fisco e promovendo uma competição desleal com as varejistas brasileiras, que pagam seus impostos e contribuem para o desenvolvimento do país”, disse em nota Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, entidade que representa 71 empresas varejistas, como Renner, Riachuelo, Magazine Luiza e Casas Bahia.

O instituto ainda diz que a indústria e o varejo buscam “uma solução para essa situação insustentável” de concorrência desleal entre vendedores de plataformas estrangeiras e nacionais.

Segundo duas fontes ouvidas, há uma reunião amanhã, em Brasília, entre representantes de varejistas e do Ministério da Fazenda, para avançar na discussão de medidas administrativas, como o aumento na fiscalização às plataformas internacionais.

Um dos caminhos que pode ser debatido, apurou o Valor, envolve mudanças no processo de pagamento de impostos pelos consumidores que compram nesses sites e “apps” estrangeiros.

“Algumas empresas, como a Amazon, cobram do consumidor já na hora da venda, após o fim da transação on-line, com pagamento direto do imposto no cartão ou boleto. Uma sugestão seria negociar essa adequação também para as plataformas asiáticas. O setor já se informou com os cartões, e é algo simples de ser feito”, diz uma pessoa a par do assunto.

Isso evitaria que a remessa tivesse o valor fraudado pelo lojista, após a venda, como forma de evitar que o consumidor fosse beneficiado pelo pagamento de menos imposto de importação.

“O IDV continuará a trabalhar intensamente, apoiando todas as medidas governamentais que forem na direção da justa tributação e da redução da pirataria e da sonegação praticada nas importações comerciais, disfarçadas de pacotes sem valor comercial de pessoa física para pessoa física”.

O IDV calcula, considerando a projeção de crescimento do varejo, que a evasão originada apenas no comércio digital deve alcançar entre R$ 76 bilhões e R$ 99 bilhões em 2025.