IDV defende a criação de um Centro Nacional de Proteção Digital para trocar informações contra ataques de hackers

(EXAME) Contra hackers, bancos, varejistas e PF buscam atuação inspirada no FBI

Evento com Febraban, Esfera Brasil e IDV debateu a criação de um Centro Nacional de Proteção Digital para trocar informações contra ataques

Um novo dia, um novo ataque hacker afetando a rotina de milhões de pessoas e de grandes instituições. Nesta sexta-feira, o alvo foi o site do ministério da Saúde e o aplicativo ConecteSUS. Ao longo de 2021, além de serviços públicos, inúmeras empresas foram alvo de ataques – de pequenas a gigantes. Em todo o mundo, estima-se que os cibercrimes levaram a perda de 6 trilhões de dólares em 2021, segundo a consultoria Roland Berger.

Segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, no primeiro semestre de 2021, os golpes cibernéticos contra clientes de instituições financeiras do Brasil cresceram 165% em relação ao mesmo período de 2020. A explosão no número de fraudes é um recorte dos tempos de pandemia, quando mais pessoas passaram a aderir às facilidades da bancarização digital através de novos serviços como o PIX, que já superou a marca de 100 milhões de usuários desde que foi implementado.

Em fórum realizado em São Paulo nesta quinta-feira, 9, representantes das maiores instituições financeiras do país e dos gigantes do varejo se reuniram para debater temas ligados à segurança digital e ataques hacker ao sistema bancário e de varejo de crédito. O debate foi conduzido pelo diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, e trouxe nomes como o advogado Pierpaolo Bottini, da Esfera Brasil; Issac Sidney, da Febraban; e Marcelo Silva, do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV).

O encontro foi mais um de uma série recente de eventos promovidos pelo setor público, representado pela Polícia Federal, e pelo privado, que se debruçam cada vez mais sobre segurança. O objetivo é fomentar a criação de um Centro Nacional de Proteção Digital brasileiro inspirado em cases americanos, na figura do FBI e Interpol, e europeu, com a Europol. Nesses 3 modelos, as polícias utilizam dados de instituições bancárias privadas para identificar, combater e punir ataques cibernéticos.

“Nossa meta é servir como um centro de troca de informações entre o setor público e privado para prevenir, mas também saber lidar com crimes cibernéticos e fraudes digitais quando elas ocorrerem”, disse Maiurino. “Nós já temos um espaço para a criação do Centro de Proteção em Brasília, isso vai acontecer em breve, estamos aqui para estender o convite à sociedade civil, aqui representada pelos bancos e varejistas”, afirmou. Caso saia do papel, o Centro de Proteção de Dados da PF será o 4º modelo no mundo que une os setores público e privado.

Assim como já acontece lá fora, a proposta da PF é criar um banco de dados central coletando informações das instituições privadas para identificar fraudes digitais. A ideia de criar delegacias federais contra crimes cibernéticos também foi debatida no fórum.

Somente no ano passado, a PF contabilizou 1282 inquéritos sobre crimes cibernéticos. Os alvos mais visados pelos hackers são pessoas sem conhecimento em segurança digital – mas empresas e instituições mais sólidas também viram alvo. O golpe mais comum, e que mais cresceu esse ano, é chamado de “engenharia social”. A prática diz respeito às vítimas que, por falta de conhecimento nos espaços digitais, acabam cedendo dados sensíveis aos golpistas, seja clicando em links maliciosos ou infectando o computador com malwares. “O combate a esse tipo de crime só avança com uma parceria coordenada entre o setor público e privado”, disse Pierpaolo Bottini, da Esfera Brasil. “A sociedade está cada vez mais digital. Essa iniciativa também é fundamental para proteger a população”, completou Marcelo Silva, do IDV.

O crescimento desse tipo de golpe ocorre em um contexto em que os smartphones já correspondem por mais da metade das transações bancárias feitas no Brasil, como pagamento de contas, boletos e transferências. Só em 2020, de acordo com o levantamento da Febraban, os celulares foram usados em 51% das transações. “Estamos falando de transformação digital. Cada vez mais a economia deixa de ser matéria e passará a ser bit. É muito importante que o estado possa garantir equidade entre empresas”, disse Flávio Rocha, da Riachuelo.

Por Matheus Doliveira | Exame, 10/12/2021