Empresários criam movimento contra reforma tributária da Câmara

Empresários criam movimento contra reforma tributária da Câmara Empresários criam movimento contra reforma tributária da Câmara

Flávio Rocha participa de evento do Brasil 200, grupo criado por ele que reúne empresários liberais na economia e conservadores nos costumes Foto: Lucas Lacaz Ruiz / A13 / Agência O Globo

Líderes dos setores de varejo, serviços, agronegócio e construção civil afirmam que projeto é pior que tributação atual

Henrique Gomes Batista

SÃO PAULO – Líderes dos setores de varejo, serviços, agronegócios e construção civil marcaram um ato contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 45, mais conhecida como a proposta de reforma tributária da Câmara dos Deputados, defendida pelo setor industrial. O lançamento oficial da frente será no dia 17 deste mês, em um clube em São Paulo.

Essa proposta, de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), cria um imposto único, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que substituiria um rol de tributos: IPI, Cofins, PIS/Pasep, IOF, Salário Educação, Cide (todos federais), ISS (que é municpal) e ICMS (que é estadual).

O novo tributo teria alíquota única, cobrada igualmente sobre todos os setores apenas na venda final do produto ou serviço ao consumidor.

Nos próximos dias, o grupo contrário a essa proposta pretende intensificar a atuação em Brasília para impedir que o projeto da Câmara avance na Casa:

– Esta proposta é pior que o sistema tributário que existe hoje, prefiro deixar como está do que aprová-la. Ampliaria a informalidade, aumentaria os preços e geraria um caos na economia – afirmou Flávio Rocha, dono da Riachuelo, conselheiro do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) e um dos idealizadores do movimento do dia 17.

Para ele, a solução na área tributária seria desonerar a folha de pagamento e avançar na criação do imposto digital, que incidiria sobre transações financeiras (nos moldes da antiga CPMF).

Alíquota única entre 25% e 27%

Segundo os organizadores, o movimento integra setores que representam cerca de 70% a 80% dos empregos formais do país.

A grande objeção se deve ao fato de que o IBS criaria uma única alíquota para todos os produtos e serviços.

Os empresários estimam que ela pode ficar entre 25% e 27%, ampliando a taxação de alguns setores, como restaurantes, escolas e lojas.

Segundo essa visão, esse cenário pode gerar um incentivo à informalidade, piorando as condições de trabalho e até as contas públicas, com redução da arrecadação, inclusive da previdenciária.

Rocha lembra que esses segmentos são muito sensíveis e que, por anos, as alíquotas foram sendo testadas para se encontrar um ponto de equilíbrio.

Locais como São Paulo arrecadam mais de restaurantes com a atual alíquota de 2,5% do que quando ela ficava em 12%. Segundo o empresário, aumentá-la é um incentivo à sonegação.

– A alíquota tem que ser tratada com muita delicadeza, como se trata de taxa de juros. Uma alíquota alta será um incentivo para o food truck em vez do restaurante, do camelô em vez da loja, do Airbnb em vez do hotel – disse Rocha.

Desoneração de alguns setores industriais

Segundo o grupo, o IBS geraria uma forte desoneração de alguns setores industriais de baixa informalidade, como bebidas, cigarros, cosméticos, automobilístico, telecomunicações e energia elétrica, que pagam alíquotas maiores, acima de 40%.

– A PEC pega o IPI do automóvel e joga na manicure, pega o IPI da Natura e coloca no restaurante – disse Rocha.

Luigi Nese, presidente da Confederação nacional dos Serviços, também faz críticas ao modelo:

– Nós queremos uma uniformização do processo tributário que possa abranger uma maior base de arrecadação e se basear tudo em algo que será como o IVA. Você baseia o sistema tributário em algo que está se tornando obsoleto, que é a nota fiscal, em uma era digital em que tudo está sendo imune às notas fiscais.

Nese continua:

– Com a PEC, vamos voltar à fase de médico que vai te oferecer não fornecer nota fiscal. Esta proposta indica que teremos menos nota fiscal, menos emprego formal e menos arrecadação.

Aumento da carga tributária

Pelas contas do “grupo dos perdedores” da PEC 45, como se autodenominam, o aumento da carga tributária com o IBS para alguns setores seria elevado.

Um advogado autônomo, por exemplo, pagaria 684% mais impostos, praticamente a mesma alta (646%) de um escritório de advocacia com um advogado só, sem sócios. Outros segmentos que passariam a ter de lidar com altas expressivas de impostos seriam escolas e creches (400%) e consultórios, clínicas e prestadores de serviços (311%).

– Como são setores que lutam contra a informalidade, com pequena margem, teriam que repassar ao consumidor final. Isso significaria que a escola de seu filho aumentaria 25% a mensalidade escolar, por exemplo – disse Alfredo Cotait Neto, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

– Temos cerca de sete milhões de CNPJs. Nós temos 3% destas empresas no sistema do lucro real, que são as empresas que serão beneficiadas com a PEC. Ou seja, esta proposta amplia fortemente a alíquota para a imensa maioria das empresas do país – afirmou o advogado Ricardo Lacaz Martins, do escritório Lacaz Martins, Pereira Neto, Gurevich & Schoueri Advogados.

O objetivo inicial do grupo é impedir o avanço da PEC 45. E, em um segundo momento, tentar ressuscitar a proposta da recriação de uma espécie de CPMF, que incidiria sobre todas as transações financeiras digitais.

– Queremos uma reforma tributária, mas uma boa reforma, que de fato melhore o país, gere mais competitividade, simplifique o sistema tributária e esteja alinhada com o futuro – afirmou Gabriel Kanner, presidente do Instituto Brasil 200.