Confinamento pode não ter sido a melhor solução diz dono da Riachuelo
Flávio Rocha participou da live da série Ao Vivo em Casa desta segunda-feira (24/8)
O empresário Flávio Rocha (Riachuelo) avalia que a crise da covid teria sido melhor conduzida se os governos tivessem aliviado a cobrança de tributos, mas está otimista com o atual momento de retomada, que ele já trata como pós-pandemia. Na live da série Ao Vivo em Casa desta segunda (24), ele diz que o confinamento não foi, necessariamente, a melhor solução.
No início da pandemia, você dizia que não adiantaria o governo jogar dinheiro de helicóptero se seguisse com um aspirador retirando da economia. O que acha agora?
O comentário não foi ouvido. Falava-se de como fazer o dinheiro chegar à ponta e da obstrução dos canais de irrigação para financiar ao menos as empresas mais vulneráveis. Mas a voracidade do governo nos três níveis seguiu a todo vapor.
Meu comentário era que a melhor forma de deixar a irrigação onde a riqueza foi gerada seria momentaneamente reduzir a voracidade tributária através de moratórias ou isenções. Mas estamos chegando ao fim da pandemia e o conselho não foi ouvido.
Tivemos um fechamento longo e sem resultado na redução das mortes na pandemia. Onde o Brasil errou?
Houve uma visão polarizada. Alguns viam só o aspecto econômico e outros, só a questão de saúde. Tínhamos de contabilizar não só as trágicas mortes visíveis. Desemprego mata. Falta de recursos para a saúde também. Só no fim se aprendeu a ver o tema holisticamente.
Ficaram ensinamentos importantes. No IDV [Instituto para Desenvolvimento do Varejo], aprendemos que o fundamental é fazer cumprir rigorosamente os protocolos de higiene. Hoje, você entra em um shopping ou uma rede de varejo e se sente seguro.
Não necessariamente o confinamento foi a melhor solução. O IDV tem 80 empresas associadas onde trabalham 800 mil pessoas. A metade estava em setores essenciais. Muitos heróis da resistência, arriscando a saúde para manter supermercado, farmácia, loja de construção.
E há os setores não essenciais, aquele de que faço parte, das redes de lojas de departamento, livrarias, sapatarias, que permaneceram a maior parte do tempo fechados.
A contaminação nos setores que ficaram abertos, com trabalhadores pegando transporte público e seguindo os protocolos de segurança, foi menor do que entre os que se confinaram em casa.
Como estão as vendas na retomada?
Tem nos surpreendido agradavelmente.
Estamos já, em alguns setores, principalmente naqueles em que se atingiu a imunidade de rebanho, com alta de dois dígitos. As empresas saem melhores, digitais, com muitos pontos de contato com o cliente.
Parafraseando Juscelino, foram cinco anos de transformação digital em cinco semanas. É um choque positivo de produtividade na economia.
Esse pós-pandemia tem a ver com as épocas de pós-guerra, de exuberância econômica. Principalmente no meu setor, é a moda mais colorida e sensual. Aqueles que imaginavam encontrar o consumidor mais arredio estão se surpreendendo com um que volta a se encontrar com as coisas boas da vida.
Você está tratando como pós-pandemia, mas ela não acabou.
Existem dados para todos os gostos. O ser humano é pessimista. Presta mais atenção às notícias más do que às boas. Isso porque, pela seleção natural, os otimistas morreram mais rapidamente.
No Brasil, há muitas curvas ao mesmo tempo. Tem as da Zona Sul de São Paulo, que foram as primeiras, em Salvador e no Rio, no Carnaval, e agora tem curvas começando.
Quando você sobrepõe as que começaram em fevereiro e as que estão começando agora, tem a impressão de que não acaba. Mas, se você restringe a uma demografia, vê que ela não foge do padrão.
Diferentemente de 2018, não temos ouvido sobre empresários na política nesta eleição municipal. Por quê?
Ficou perigoso. Lembra do meu entusiasmo na época do Brasil 200 [grupo de empresários que ele fundou em 2018 para defender bandeiras liberais]. A palavra de ordem era sair da moita. Nós culpávamos o empresário-moita, que não se posicionava. Foi um fenômeno.
Em três semanas, atingiu 500 mil fãs no Facebook. Mas hoje, até me penitencio e me desculpo com amigos que atenderam meu chamamento de sair da moita e enfrentam uma realidade onde tem gente presa por crime de opinião.
Não vivemos a plena liberdade de expressão. Devia-se comemorar o crescimento das mídias sociais como a democratização da verdade em relação ao cenário anterior, onde a verdade era produzida em meia dúzia de redações e empurrada goela abaixo. A mídia social tornou cada um de nós um polo emissor de verdade.
Isso deveria ser comemorado, como garantia de voz a todas as visões. Mas está sendo demonizado, chamado de robô, de fake news. Existem autoridades que se veem no direito de dizer o que é ou não verdade. Infelizmente, inibiu um movimento que vinha muito bem de protagonismo de quem tem muito a dizer, que é a classe empresarial.
Mas a classe empresarial é, por natureza, assustada. Eu tenho 30 quilômetros de vitrines. A empresa, a família, são alvos fáceis de serem atingidos. Acho que a classe empresarial voltará a ser tímida, porque deixou de ser seguro emitir opinião no Brasil.
Refere-se ao STF?
Às mais diversas formas de agressão e tolhimento à liberdade.
Publicado em: Painel S.A. – Folha de S. Paulo, 24/8/2020