Compra por empresas seria elitização da vacina, diz dono da Raia Drogasil

Compra por empresas seria elitização da vacina, diz dono da Raia Drogasil Compra por empresas seria elitização da vacina, diz dono da Raia Drogasil
Confira a entrevista do conselheiro do IDV Antonio Carlos Pipponzi concedida ao jornal Folha de São Paulo.

Antonio Carlos Pipponzi faz parte de grupo de empresários que se oferece para ajudar os governos no processo de vacinação

A frustrada movimentação empresarial para a compra privada de vacinas seria um absurdo e uma elitização do imunizante, na opinião de Antonio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da Raia Drogasil. Ele faz parte de um outro grupo de empresários que se oferece para ajudar os governos nas etapas do processo de vacinação.

Como está o cenário atual? Nossa agenda no IDV [Instituto para Desenvolvimento do Varejo] é de reformas, mas ela foi interrompida fortemente pela pandemia, com os temas de fechamento do comércio e vacina, que nós até iniciamos um movimento.

Como é esse projeto de vocês para as vacinas? Iniciamos um movimento da sociedade civil capitaneado pelo IDV, e provocado inicialmente pela Luiza Trajano [Magalu], há cerca de três semanas. Mas não tem a ver com isso de quem tem culpa ou não, se é a favor ou contra, Bolsonaro ou Doria. É sobre o que podemos fazer para agilizar o processo de vacinação.

Criamos comissões que começaram a trabalhar temas, como logística, aplicação, importação de insumos, comunicação. Estou otimista de que possamos ajudar, se o governo permitir. Acho que teremos mais de 300 lideranças. Nossa ideia não é criar políticas novas nem substituir políticas de governo.

E a compra privada de vacina? O que achou daquela ideia? Não confunda [o nosso movimento] com compra de vacina. Não sei nem se isso existiu. É absurdo porque estaria onerando a compra de vacinas pelas empresas e fazendo uma distribuição totalmente fora das prioridades. Posso dizer que esse é o pensamento do núcleo que criou o nosso movimento. Queremos trabalhar conforme as regras, entendendo que há prioridades. Ninguém está pretendendo vacinar funcionários, parentes e primos de 20 anos em detrimento da população que nesse instante precisa. Isso para mim é a elitização da vacina.

Vocês fariam a distribuição? Não. Seria perguntar onde o programa dos governos precisa de ajuda. Pode ser distribuição, aplicação, auxílio na vinda de insumos. Esperamos do governo que diga o que precisa, para trabalharmos a partir das demandas federais, estaduais e de prefeituras.

Não estamos focados em um só tema. Naquilo que os governos sentirem que podemos colaborar, estaremos prontos. E o grupo é grande. Tem o apoio do grupo Mulheres do Brasil, Abrafarma [associação de farmácias] e outros.

É anterior à tentativa de compra privada das vacinas? Começou no dia seguinte à liberação da Anvisa às vacinas.

No futuro, a Raia Drogasil cogita ter a vacina nas farmácias? Já fazemos aplicação de vacinas há mais de um ano. Temos facilidade por causa da capilaridade. Não só na nossa rede, que tem 2.300 pontos, mas a Abrafarma como um todo, com mais de 20 mil pontos de venda.

Temos farmacêuticos e ambiente disponível. É muito prático. É um processo em fase inicial mas que já começa a ser relevante.

No futuro, eu imagino, eu espero, que essa vacina seja simplesmente uma a mais, como a da H1N1. E devemos continuar. Mas por enquanto, a Abrafarma se disponibilizou a ajudar o governo na vacinação a custo zero. Cerca de 5.000 pontos estão preparados.

Neste momento vocês discutem questões como a segurança? É um momento de pensar Brasil. Tem que dar a colaboração. Nós temos 8.000 farmacêuticos e 2.300 pontos em todos os estados. Agora, depende de cada prefeitura. Algumas estão bem aparelhadas. Outras têm menos locais ou problemas de equipamentos, como geladeiras.

E esse clima de que agora vai, com a eleição no Congresso? Se abre uma janela para as reformas? Evidentemente, cada reforma é uma. Minha visão, muito compartilhada entre meus pares no IDV, é que, primeiro, deveríamos ter a administrativa e o choque de privatização para diminuir o custo do estado. E só depois falar qual é a receita necessária.

Uma reforma administrativa bem conduzida, com impacto, não é simples. Para muitos, é só cortar pessoas e estabilidade. Tem a redução do tamanho da operação do estado. Mas tem de criar plano de carreira, valorizar a parte boa do funcionalismo público, que não é pequena.

Eu presenciei o otimismo do Salim Mattar [ex-secretário de desestatização], quando ele entrou no governo com tantas estatais que poderiam ser privatizadas. Um entusiasmo enorme que se dissipou e provocou a saída dele do governo. Assim como com a reforma administrativa, que tinha grande entusiasmo, mas desapareceu.

E o Paulo Uebel, que era responsável pela secretaria do tema, saiu também. Foi uma ducha de água fria. Com a retomada do tema, vem o otimismo. O empresário se entusiasma.

A empresa foi cobrada pelo Sleeping Giants [e retirou anúncio de um canal bolsonarista]. Como avalia? Isso passou pelo conselho [de administração da empresa]. É uma preocupação quando se contrata mídia pela internet. Esse monitoramento tem de existir. Mas às vezes a mídia cai no lugar errado porque você não tem controle. Isso é um alerta para ter toda cautela com eventuais veículos ou sites. É preciso tirar ensinamentos disso. A empresa, obviamente, é totalmente apolítica. Imagine se uma empresa tem condição de ser partidária? Isso, para mim, não caracterizou nada sobre qualquer posicionamento partidário.

 


Antonio Carlos Pipponzi

Formado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas. É membro do conselho do Instituto para Desenvolvimento do Varejo e presidente do conselho de administração da Raia Drogasil

Painel S.A.

Jornalista, Joana Cunha é formada em administração de empresas pela FGV. Foi correspondente da Folha em Nova York e repórter de Mercado