Análise: Varejo pede agilidade, critica bancos e ganha nova promessa em crédito

Análise: Varejo pede agilidade, critica bancos e ganha nova promessa em crédito

Em duas horas e meia de “live” no Youtube entre os principais líderes do setor de varejo e o ministro da Economia Paulo Guedes, as cobranças do segmento se concentraram em aumentar a agilidade na liberação de crédito ao setor, formas de buscar novos canais de liberação — que “driblem” a dependência dos bancos privados — e acionar o BNDES para montar linhas para as companhias.

Em determinadas situações, representantes lembraram, que determinados segmentos do comércio “nunca pediram nada ao governo” , como destacou Glauco Humai, presidente da associação de shoppings, mas agora precisam de apoio. As empresas têm solicitado a criação de linhas específicas no BNDES de apoio a esses negócios.

“O BNDES está tratando exatamente disso, e está com tudo na mão, são bilhões para essas linhas. Esse caminho é perfeitamente possível”, disse Guedes aos shoppings.

Em diversos outros momentos veio à tona o que foi, provavelmente, o tema central da discussão (destacado no discurso de vários representantes): a falta de rapidez em fazer o capital chegar ao setor privado, de maneira que as linhas sejam acionadas pelos médios e pequenos comerciantes.

“O senhor tem essa possibilidade de fazer isso por meio dos bancos públicos, sempre fundamentais nesses momentos de tsunamis sobre o país”, disse Marcelo Silva, presidente do IDV, maior instituto do varejo, que representa 70 redes como GPA, Carrefour, Renner, Lojas Americanas. Guedes diz que a questão está sendo conduzida internamente no governo.

Logo nos primeiros minutos da “live”, Guedes já havia dado o recado nesse sentido. Ele mesmo afirmou que “o dinheiro estava ficando empoçado” no mercado, e deixou transparecer que isso seria nocivo para o sistema.

Nessa mesma linha, surgiu na discussão um ponto que vem ganhando força no varejo: a liberação de crédito pelas adquirentes de cartão de crédito. Guedes foi questionado sobre a ideia.

O Valor apurou que, desde o começo da semana, quando redes varejistas vieram a público, em carta ao Banco Central, afirmar que o custos das linhas nos bancos subiram durante a crise – com altas de até 70% nos juros para linhas do dia a dia das redes (capital de giro e desconto de recebíveis) -, essa demanda de novos canais (como adquirentes de cartão e as fintechs) vem ganhando força como forma de pressionar os bancos a rever sus condições. “As agências deles estão fechadas, nem com gerente conseguimos falar”, lembrou um dos varejistas.

Já nos últimos minutos da live, veio talvez, o principal fato novo hoje: Guedes afirmou que o Banco Central está em conversa com a Rede, Cielo e PagSeguro para liberar crédito pelas maquininhas de cartão.

O setor varejista é relativamente próximo deste governo, por meio de empresários (Flavio Rocha, Luiza Helena Trajano, Abilio Diniz) que têm fácil trânsito junto aos membros da equipe econômica — além do próprio Guedes, o setor tem canal aberto com o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Alexandre Da Costa. Guedes inclusive, de certa forma, lembrou isso na live — falou da “proximidade” no setor com Bolsonaro, antes e depois das eleições.

O problema central é que, como é um dos setores com maior volume de micro e pequenos empresários no país, e nem sempre foram ouvidos em períodos de crise — o setor industrial sempre foi mais articulado politicamente que o varejo nos anos de recessão nas décadas de 80 e 90 — o temor é que as demandas do varejo fiquem em segundo plano.

Até a sexta-feira, os pleitos da maioria das entidades encaminhados ao ministério e ao BC não tinham sido respondidos, o que causava certo incomodo em empresários ouvidos pelo Valor durante a semana passada. Não à toa, falou-se tanto em velocidade e agilidade hoje — algo que provavelmente deve continuar a ser mencionado nos próximos dias.
04/04/2020

Disponibilizamos aqui a gravação da videoconferência na íntegra