As 5 maiores altas e as 5 maiores quedas do Ibovespa no 1º semestre de 2022 – e o que esperar para elas até o fim do ano

As 5 maiores altas e as 5 maiores quedas do Ibovespa no 1º semestre de 2022 – e o que esperar para elas até o fim do ano

Por Lara Rizério, 30 jun 2022 – InfoMoney | O Ibovespa teve em junho seu pior desempenho mensal desde o choque inicial da pandemia de Covid-19, em março de 2020, encerrando um trimestre conturbado nos mercados mundiais por temores de inflação e recessão.

Em junho, o índice fechou em queda de 11,50%, acumulando perdas de 5,99% em 2022.

Além do exterior negativo, receios fiscais domésticos também colaboraram para as perdas recentes dos ativos brasileiros.

Investidores têm fugido de ativos considerados mais arriscados num cenário de alta de juros mais agressivas por parte dos bancos centrais de economias desenvolvidas, priorizando o combate à inflação em vez da proteção do crescimento. Com isso, ações de tecnologia e de varejistas têm sido especialmente impactadas, o que ajuda a explicar as maiores quedas do benchmark da Bolsa brasileira no período.

Confira os principais destaques de alta e de baixa no mês e no semestre do Ibovespa (e as projeções dos analistas para as ações):
Maiores baixas
Magalu (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3): primeiro semestre para se esquecer

Apesar de alguns dias de repique a depender do movimento da curva de juros, o mês de junho foi bastante negativo para as ações de crescimento, fechando um primeiro semestre praticamente para ser esquecido para as empresas varejistas e para muitas empresas de tecnologia.

O caso mais notório é o da ação do Magazine Luiza (MGLU3), que registrou uma derrocada de 67,59% no semestre, sendo 37,10% apenas em junho, o que inclusive foi uma das razões para Luiza Trajano deixar a lista de bilionários da Forbes no último mês do ano.

Figurando entre as maiores perdas, também estiveram as varejistas Via (VIIA3) e Americanas (AMER3), com baixas respectivas de 63,43% e 56,39% no semestre e de 38,85% e 33,18% em junho.

Conforme destaca a XP, quatro fatores principais ajudam a explicar a queda dos ativos, assim como de outras companhias que tiveram forte baixa em junho e no primeiro semestre.

São eles: i) deterioração macroeconômica, ii) aumento do custo de capital, iii) aumento da competição e iv) mudança do foco do mercado.

Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, analistas da XP, apontam que a inflação tem se mostrado mais persistente do que se projetava no começo do ano, com o conflito de Rússia e Ucrânia e continuidade de lockdowns na China contribuindo para sua manutenção em patamares altamente elevados.

“Dessa forma, temos visto uma forte redução do poder de compra do brasileiro o que, aliado a um cenário de forte alta de juros, se traduz em uma demanda altamente fragilizada para bens de consumo, especialmente os discricionários e de preço médio mais alto. Nesse sentido, bens duráveis acabam sendo fortemente penalizados, sendo essa categoria uma das mais relevantes para todos os players de ecommerce, principalmente Magalu e Via”, apontam os analistas.

Além disso, desde fevereiro de 2021, quando a taxa básica de juros, Selic, atingiu o menor patamar dos últimos 20 anos (em 2%), o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) aumentou a taxa utilizada como referência para a renda fixa em 11,25 pontos percentuais, indo a 13,25% na última reunião.

Os analistas apontam que o forte aumento não só desmotiva o consumo por tornar o financiamento cada vez mais caro, como também é um desafio para os preços das ações, uma vez que o custo de capital das companhias também aumenta, impactando negativamente o valor dessas companhias. Nesse caso, as empresas de e-commerce sofrem ainda mais por serem papéis com fortes perspectivas de crescimento e, portanto, concentrando grande parte do seu valor em fluxos de caixa mais longos.

O cenário competitivo também tem sido bastante acirrado, contando com os players tradicionais como Mercado Livre, Magalu, Via e Americanas, mas também com nomes como Amazon e Shopee.

“Apesar de termos visto uma racionalização do setor em busca de rentabilidade, principalmente através do aumento das taxas de comissões compradas em seus marketplaces, ainda há desafios de rentabilidade por conta do aumento de competição por marketing (o que se traduz em um maior CAC – custo de aquisição de clientes) além de impulsionar a necessidade de investimentos em melhorar a oferta de serviços para o cliente (como frete grátis, programas de fidelidade, cashback, entre outros)”, apontam.

Neste ambiente, mesmo com a forte queda das ações no mês e no semestre, a XP destaca não recomendar compra para os papéis do setor, com recomendação neutra para MGLU3, VIIA3 e AMER3.

“Apesar da forte queda do setor, ainda não recomendamos compra dos papéis de e-commerce por esperarmos uma dinâmica macro bastante desafiadora pela frente, tanto do ponto de vista de inflação (que deve se manter próxima a patamar de duplo dígito ao longo do ano) como de taxa de juros (com pelo menos mais uma alta esperada no Brasil e um ciclo ainda por vir nos EUA)”, avaliam os analistas.

Além disso, destacam, os movimentos recentes de Amazon e Shopee adicionam risco para o cenário competitivo do setor uma vez que ambas as companhias são altamente capitalizadas, possuem expertise global e tem focado na plataforma de marketplace, onde todas as companhias de ecommerce brasileiras tem concentrado seus esforços frente à fraca demanda de bens duráveis por conta do cenário macro atual.

Um tema que está no radar e que pode ajudar na competitividade das empresas nacionais é a discussão de controles sobre produtos de plataformas estrangeiras. Contudo, a agenda para aumento de taxação de impostos e fiscalização de plataformas estrangeiras, que vinha sendo defendido pelas varejistas brasileiras, deve ser adiada e ficar para o próximo ano, à medida que as eleições se aproximam e devido ao excesso de ruídos que a pauta acabou criando, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

A Receita Federal vinha trabalhando numa medida provisória para combater a entrada de produtos falsificados ou sem o pagamento devido de impostos pelas plataformas de e-commerce estrangeiras. Segundo dados da Receita, mais de 700 mil dessas mercadorias chegam todos os dias no país, gerando perda tributária de cerca de R$ 80 bilhões por ano. No foco da ofensiva, estão as americanas Wish e Shein, as chinesas Shopee e AliExpress e o Mercado Livre.

Desde o início do ano, associações setoriais e líderes de diversas varejistas brasileiras vinham discutindo a pauta junto à Receita Federal, Correios e membros do Ministério da Economia. Entretanto, apesar de ainda existirem reuniões em andamento, a postura contrária do presidente Jair Bolsonaro em relação ao tema deve inviabilizar essa pauta neste ano, aponta a Levante.

“Um aumento da fiscalização poderia reduzir em grande parte essas práticas, melhorando a questão da competitividade com as varejistas brasileiras, que muitas vezes acabam perdendo clientes para plataformas estrangeiras que conseguem vender produtos similares por preços muito mais baixos”, apontam. Associações do setor têxtil e do setor de e-commerce continuam trabalhando no tema e tentado avançar na troca de informações. Em julho, está programado um encontro do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) com as secretarias da Fazenda para abordar o tema.

Enquanto essas discussões não progridem, o ambiente segue de maior cautela para as ações do segmento. O Morgan Stanley é outra casa que também continua cautelosa com os ativos. Para Magazine Luiza e Americanas, a exposição é equalweight (em linha, equivalente à neutra), enquanto para Via é underweight (exposição abaixo, equivalente à venda).

Em podcast do Stock Pickers (veja o vídeo abaixo) Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy, afirmou que neste cenário de desaceleração econômica global, a Legacy busca estar mais vendida do que comprada na bolsa brasileira, principalmente no setor de consumo. “É um cenário péssimo para Bolsa, tem que ter um portfólio que se beneficia com os juros mais alto por muito tempo”, destacou.

Em um ambiente visto como cada vez mais provável uma recessão nos EUA, os especialistas têm destacado que a economia brasileira não vai passar impune e está fadada ao mesmo destino. Além de ser um país emergente e historicamente sofrer mais em tempos de aversão ao risco, o Brasil também passa por uma eleição presidencial, o que aumenta as incertezas em torno do país.