Acorda, Brasil

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Confira o artigo de Marcos Gouvêa de Souza, conselheiro do IDV, publicado pelo portal Mercado&Consumo, que compara o PIB do Brasil com o de outros países.

A evolução econômica e social do Brasil nos anos recentes mostra que estamos nos distanciando, cada vez mais, do sonho de um país mais desenvolvido, justo, menos desigual, mais seguro e moderno.

O quadro comparativo do crescimento do PIB, nos últimos 60 anos, mostra o quanto estamos ficando para trás na evolução nesses e em muitos outros aspectos.

E mente ou se engana e tenta enganar quem vê diferente disso quando se comparam indicadores globais nas áreas de educação, desigualdade social, segurança e desenvolvimento econômico.

Os quadros comparativos tornam eloquente o descompasso do Brasil ante uma amostra com outros países e reforçam, para além do problema que nos atinge, o fato de que o mundo ocidental também enfrenta um quadro de perda de protagonismo no cenário global, dado o acelerado e consistente processo de transformação e evolução que se vive na Ásia, que temos mostrado e com o qual temos nos conectado de forma constante.

Evolução do PIB numa amostra de países

Evolução do PIB. Fonte: Banco Mundial e MosaicLab

Estados Unidos, Inglaterra e França, tomados como exemplos da liderança ocidental, também vivem seus conflitos e dramas internos de forma a refrear o crescimento econômico e social, ajudando a ampliar e aprofundar o fosso que existe entre a realidade dos países desenvolvidos do Ocidente e o que acontece na Ásia.

Evolução do PIB per capita numa amostra de países

Evolução do PIB per capita. Fonte: Banco Mundial e MosaicLab

O recente debate na campanha presidencial norte-americana, que reuniu o desajustado com o decrépito, como a própria mídia norte-americana tem destacado, mostra que o vácuo e o despreparo das lideranças não é um problema só nosso.

O momento também é igualmente delicado na França e na Inglaterra. Mas é preciso ampliar a visão no tempo e comparar evoluções para termos mais clara essa constatação. E, por conta disso, a provocação dos gráficos acima.

Em especial, quando estamos comemorando os 30 anos do Plano Real no Brasil, constatamos que com visão, determinação e união é possível reverter quadros crônicos como já fizemos.

E tudo isso acontece num momento em que vivemos um cenário de intensa, profunda, ampla, crescente e irreversível transformação e que só os inconsequentes e alienados ousam ignorar ou minimizar.

Como muito bem definiu Thomas Friedman, com o aval de seus três prêmios Pulitzer, em recente artigo no The New York Times: “Não estamos em um momento comum da história. Estamos no início das maiores rupturas tecnológicas e da maior ruptura climática da Humanidade. Estamos no início de uma revolução de Inteligência Artificial que vai mudar tudo para todos – como trabalhamos, como aprendemos, como ensinamos, como negociamos, como inventamos, como colaboramos, como lutamos em guerras e como combatemos crimes.”

Um país como o Brasil, com uma das mais jovens populações do mundo, com idade média de 32 anos, está envelhecendo antes de ter se desenvolvido e se autocondenando à vanguarda do atraso pelas opções mesquinhas, populistas e imediatistas que privilegiam a popularidade passageira à visão e construção de um projeto para a Nação. E tudo tem conspirado para que assim se mantenha.

Vivemos tempos em que fazer mais do mesmo, como temos feito, só nos distanciará ainda mais do país com o qual um dia sonhamos e que temos sido incompetentes para desenvolver. E nos condenando a sermos apenas um mercado consumidor com uma população relevante em tamanho, porém, na média, pobre, desassistida e sem vontade ou determinação.

Tudo isso apesar do privilegiado potencial nas áreas de energia limpa, solo, água e insolação que o País possui num momento em que esses recursos se tornam fundamentais para o futuro da Humanidade.

Mas está claro que é preciso muito mais do que recursos naturais para construir o que queremos e precisamos. É preciso visão, grandeza, determinação e capacidade de integrar e pensar o longo prazo.

Nesse cenário, a tecnologia, o digital e a Inteligência Artificial reconfiguram toda a realidade em que estamos patinando na construção de um futuro melhor e mais bem distribuído.

Quem pode, desiste ou se protege e busca domicílio fiscal ou real em outras geografias como instrumento de distanciamento da desgastante realidade. Quem não pode ou não quer se acomoda e nem reclama ou se mobiliza por entender que assim é e assim será, sem se importar com o tóxico legado que estamos deixando para as futuras gerações.

Ao compararmos a história e a velocidade das mudanças recentes vividas por Coreia, Singapura, Indonésia e outros países, fica claro que é possível desde que, e somente se, existirem lideranças visionárias e integradas com o setor empresarial e privado com capacidade de transformar de forma estrutural e estratégica a realidade.

O mundo atual é complexo e desafiador demais para quem quer que seja imaginar que é possível mudar num ambiente polarizado e desintegrado e apenas com discursos ou boas intenções.

Cabe a reflexão e, principalmente, a ação para acordar para a realidade e o distanciamento que vivemos e que se amplia para buscarmos a solução na mobilização das lideranças empresariais dos mais diversos setores, segmentos e geografias para mudar o que aí está. E não perdermos nenhuma oportunidade para discutirmos um projeto para o que vem pela frente.

Estamos menores e cada vez mais distantes do futuro que um dia pensamos.

É preciso parar de sonhar e acordar para a realidade.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma MERCADO&CONSUMO.