O buraco é mais embaixo na transformação dos Meios de Pagamento

O buraco é mais embaixo na transformação dos Meios de Pagamento O buraco é mais embaixo na transformação dos Meios de Pagamento

Trata-se de movimento amplo, que envolve as tradicionais ou novas credenciadoras, mas também novos entrantes vindos de outros ambientes, todos disputando a perspectiva de se tornarem relevantes na reconfiguração plena do mercado.

Por Marcos Gouvêa de Souza (*) – ProXXIma, 23/5/2019

Definitivamente o que está em jogo não é apenas o mercado de R$ 1,55 trilhões que cresce consistentemente dois dígitos nos últimos anos, segundo os dados da ABECS – Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito.

Está para ser inventada uma nova expressão que combine disrupção com tsunami na velocidade da luz para tentar descrever os consecutivos e expressivos movimentos nesse setor no mercado brasileiro. Em boa parte inspirado pelo que acontece no mercado global, em especial na China.

Na sequencia de poucas semanas as taxas e prazos históricos praticados no mercado de cartões de crédito e débito foram sucessivamente alterados pelos principais players em busca de um protagonismo que assegure uma perspectiva diferenciada no segmento de meios de pagamentos.

É um movimento bem mais amplo que envolve as tradicionais ou novas credenciadoras, mas também novos entrantes vindos de outros ambientes, todos disputando a perspectiva de se tornarem relevantes na reconfiguração plena do mercado.

Movimento que envolveu os outrora líderes isolados Rede e Cielo, os novos players como Get Net, Safra Pay, Stone, Pag Seguro e também incluindo os novíssimos candidatos, como Conectar, Rappy, Movile e outros mais. Para não falar nos varejistas que estão aquecendo para entrar em campo, todos buscam assegurar um lugar ao sol, o mais espaçoso possível, no novo cenário emergente.

O tamanho do mercado atual, o consistente crescimento real dos últimos anos, a rentabilidade do setor comparado com outros segmentos econômicos, o fato de que os cartões atuais representam apenas perto de 40% dos pagamentos atuais das famílias e, portanto, com amplo espaço para aumentar participação, tudo isso por si só já seria atraente o suficiente para despertar tanta atenção para as transformações emergentes nos negócios de meios de pagamentos.

Mas a perspectiva é ainda muito maior e estrategicamente mais atraente.

O que está em jogo, e jogo pesado, é o acesso, monitoramento e uso das informações geradas pelo uso de meios de pagamentos para analisar, prever, promover, relacionar, antecipar e desenvolver novos negócios, que pode criar ecossistemas empresariais com um poder de fogo sem precedentes.

Exatamente como acontece na China, a partir do que pode ser aprendido pela atuação de Alibaba, Tencent, Didi, JD e outros que se estruturaram em tentaculares ecossistemas de negócios a partir do conhecimento e uso dessas informações com uso amplo de tecnologia e se organizaram empresarialmente para crescer em diversas áreas, concomitante e muito rapidamente.

Não por acaso ou coincidência, marcas que recentemente fizeram movimentos estratégicos de entrada efetiva no mercado brasileiro, em ações greenfield ou associação ou compra de participação em outros negócios convergentes.

Se alguém imaginou que os movimentos recentes no mercado de meios de pagamento possa ter algo a ver com uma súbita consciência para equilibrar a rentabilidade dos negócios entre credenciadoras, bandeiras, bancos e varejistas, proporcionando até mesmo redução de preços para consumidores, é melhor rever sua posição. O buraco é bem mais embaixo.

Mais sobre o tema, leia aqui o artigo “O mercado de maquininhas nunca mais será o mesmo”

(*) Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza, membro do IDV – Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, do IFB – Instituto Foodservice Brasil, Presidente do LIDE Comércio e membro do Ebeltoft Group, aliança global de consultorias especializadas em varejo em mais de 25 países. Publisher da plataforma Mercado & Consumo.